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»  Design Industrial e Diversidade Cultural
 
A diversidade cultural tem se manifestado na materialização dos requisitos técnicos de produtos industrializados, conforme demonstram os estudos de casos realizados nos setores automobilístico, moveleiro e de eletrodomésticos, em aspectos tais como, por exemplo:

• materiais
acabamentos
estrutura
sistemas de funcionamento
outro

As empresas em geral têm desenvolvido diferentes modelos de produtos, voltados a diferentes segmentos de mercado.

No setor automobilístico, as corporações têm desenvolvido, inclusive, diferentes versões, a partir de um mesmo modelo básico.

A Volkswagen, por exemplo, comercializa versões do automóvel Polo com diferenças em especificações técnicas (por exemplo: tipos de motor, combustível, etc.) no Brasil e na Alemanha. Há seis versões do Volkswagen Polo a diesel e onze a gasolina, com motor 1.4 FSI, na Alemanha, enquanto que, no Brasil, há um total de cinco versões, todas a gasolina, com motores 1.6 e 2.0.1▼

As versões do Ford Escort, comercializadas nos Estados Unidos e no Brasil, diferenciavam-se em vários aspectos técnicos, tais como, por exemplo: tipo de câmbio, capacidade do tanque de combustível, peso, diferencial, cilindrada, taxa de compressão, potência máxima, torque máximo e carroceria, dentre outros (ver Tabela 20).
TABELA 20 - ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS DO AUTOMÓVEL FORD ESCORT PARA O MERCADO NORTE-AMERICANO E BRASILEIRO (1990)
Especificações técnicas Ford Escort (EUA)* Ford Escort (BRASIL)
Capacidade do tanque de combustível (litros) 50 65
Peso (Kg) 1.053 950
Câmbio Manual ou automático Manual
Diferencial 3,62 : 1 3,67 : 1
Cilindrada (litros) 1,9 1,8
Taxa de compressão 9,0 : 1 8,5 : 1
Potência máxima (cv/rpm) 88/4 400 87/5 400
Torque máximo (Nm/rpm) 146/3 800 149/3 000
Carroceria Versões de duas e quatro portas Versões de duas portas
FONTE: Elaborado por Maristela M. ONO, a partir de dados disponíveis em: Revista QUATRO RODAS, ano 30, n. 06, São Paulo, 1990, p. 100
NOTA: * Modelos Poly e LX
O Ford Escort comercializado na Europa, por sua vez, diferenciava-se também das versões dos Estados Unidos e do Brasil, em termos de funções técnicas.

As corporações, de um modo geral, têm buscado incorporar inovações tecnológicas nos veículos, em grande parte pelo fator de competitividade no contexto da globalização de mercados e da concorrência internacional.

Os automóveis Volkswagen, por exemplo, cuja mecânica era, outrora, de simples manutenção, podendo esta ser realizada por inúmeras oficinas existentes no país, tiveram que adotar recursos tecnológicos mais avançados e complexos, cuja manutenção, por sua vez, tem exigido uma maior especialização de mão-de-obra.

Há, atualmente, uma maior equalização no emprego de recursos tecnológicos nos veículos.

    Houve, nos últimos anos, um grande avanço tecnológico, e, atualmente, a Volvo do Brasil Veículos Ltda exporta um caminhão para a Europa, “no mesmo nível tecnológico e de qualidade. [...] nós temos um produto globalizado. Demos um salto enorme! E o mercado, de uma maneira geral, está fazendo a mesma coisa. A Scania lançou a Série 4, que é um produto global.... (HOLZMANN, 2001).
      Escutar trecho em áudio:
Verifica-se uma tendência à adoção de plataformas globais e modularização de componentes nos produtos, confirmando a perspectiva apontada por Bartlett e Ghoshal (1992). O Ford EcoSport, por exemplo, foi montado a partir do chassi monobloco do novo Ford Fiesta, e o Volkswagen Fox, a partir da plataforma do Volkswagen Polo.

Têm-se intensificado as parcerias entre empresas, convergindo com tal tendência, visando principalmente aportes tecnológicos, a racionalização da produção e a ampliação da lucratividade das empresas.

Neste cenário de internacionalização de plataformas e componentes, o designer depara-se o grande desafio de desenvolver conceitos e soluções de produtos que sejam adequados aos diversos contextos locais, às características, necessidades e anseios das pessoas, e, ao mesmo tempo, tecnicamente e economicamente viáveis.

    ... às vezes, aquele primeiro rabisco do carro, o primeiro conceito do carro que se faz, não tem nada a ver com o carro que foi feito. Pegam-se os conceitos e começa-se a montar o que é possível se fazer. Então, a imaginação do designer hoje na indústria automotiva não é apenas conceber um novo carro, como uma pintura. Não é só desenhar um novo carro. Ele vai ter a idéia inicial, mas o mais importante é que ele desenvolva conceitos e soluções. (KRAEMER, 2002).
      Escutar trecho em áudio:
O emprego de commodities globais tem promovido certas similaridades técnicas entre veículos de empresas diversas, atuantes em um mesmo segmento de mercado.

Entretanto, a diversidade cultural tem se manifestado no design de produtos, em aspectos como, por exemplo: tipos de materiais, acabamentos, fontes de energia, sistemas de funcionamento (exemplos: transmissão, freios, motor, suspensão, abertura e fechamento de vidros e portas, etc.), controle de emissão de poluentes, controle de temperatura, dentre outros.

Há tipos de materiais que são utilizados em determinados mercados e que não podem sê-lo em outros. Barone menciona que, “se analisarmos os carros alemães, na questão dos materiais eles usam, por exemplo: fibras. [...] não se pode usar o mesmo tipo de fibra aqui no Brasil, onde temos temperatura de 40o, e chegamos a ter temperaturas do painel de acima de 100o. Se a pessoa joga água ali, ela ferve!” (2001).
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1▲ Informações disponíveis em: <http://www.volkwagen.de>; <http://www.volkwagen.com.br>. Acesso em: 02 mar. 2004.
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