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»  Design Industrial e Diversidade Cultural
 
No setor de eletrodomésticos, os requisitos técnicos dos produtos variam entre mercados culturalmente distintos, em aspectos tais como materiais, acabamentos, recursos tecnológicos, dentre outros, apesar da promoção do desenvolvimento de “commodities”, através da intensificação de parcerias entre empresas e fornecedores de matérias-primas, componentes e recursos tecnológicos, que estão se tornando cada vez mais comuns, reduzindo as diferenças de especificações técnicas entre produtos concorrentes.

    Hoje, apesar do design ser regional, as tecnologias são globais, e normalmente temos que trabalhar com grupos internacionais. Nós aqui temos uma área de tecnologia, mas ela é internacional. Faz projetos para o Brasil, México, Índia, China, Estados Unidos, Europa,... E às vezes, alguns dos nossos projetos são feitos nos Estados Unidos ou na Europa. Então, nós sempre temos que negociar, e acontece muito da gente ir a reuniões, e do pessoal, principalmente de engenharia, que está sempre buscando a racionalização das peças, das plataformas, etc. (GAMA JÚNIOR, 2001).
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Ratifica-se, assim, o entendimento de Borges (1999), dentre outros, acerca da tendência a um maior alinhamento tecnológico entre produtos similares de diferentes empresas.

Uma tecnologia conhecida é, muitas vezes, mais barata e mais simples de se usar do que outra inovadora, que, além de exigir um investimento para o seu desenvolvimento e ter que ser factível, precisa ser compreendida pelos consumidores, como observa a Entrevistada “A” (1998).

Deste modo, é fundamental considerar-se as relações entre a diversidade cultural e a tecnologia, e a adequação desta, no desenvolvimento de produtos para a sociedade, pois nem sempre uma inovação tecnológica é realmente útil e bem assimilada pelas pessoas.

Os materiais são, em grande parte, “commodities globais”, no caso do setor de eletrodomésticos. Há, no entanto, certas particularidades, em termos de requisitos técnicos, que demandam a diferenciação dos mesmos entre determinados mercados.

Os materiais dos produtos da Electrolux, por exemplo, diferenciam-se, dependendo dos mercados aos quais se destinam. A Entrevistada “H” (1998) relata que o produto da marca alemã AEG “[...] é o mais sofisticado que tem a Electrolux”, porque, na Alemanha, exige-se que os materiais utilizados nos produtos sejam “nobres”, pois os mesmos têm que ser duráveis. Já na Itália e na França, por exemplo, as pessoas “já são mais flexíveis”, acrescenta. No caso da linha Alpha, comercializada na Escandinávia, a qualidade dos materiais é um pouco mais baixa, e, no resto da Europa, “tem [produto da linha] Deltha, que é o mais ‘popularzão’, que vai para a Índia, para a China, para algumas regiões da Itália, França, para a Espanha, Portugal...” (ver Figuras 552 e 553).
Figura 552 - detalhes de interior de um refrigerador aeg (alemanha, 2004)

Figura 553 - detalhes de interior de um refrigerador electrolux (suécia, 2004)

O gosto dos suecos pelos materiais naturais tem se refletido nas especificações técnicas de eletrodomésticos da Electrolux para o mercado sueco, a exemplo dos puxadores em madeira de alguns modelos de refrigeradores e fogões (ver Figura 377, Capítulo 8). Os designers do centro de design da Suécia chegaram a desenvolver, inclusive, estudos de gavetas de verduras e frutas e manteigueira de refrigeradores em vime.

Verifica-se que as funções técnicas dos eletrodomésticos também constituem elementos de diferenciação entre as diferentes classes e grupos sociais, ressaltando a questão da distinção social, salientada por Bourdieu (1979; 1983). A Entrevistada “A” (1998) observa que, no Brasil, existem vários grupos de poder aquisitivo e culturas diferentes, e a chamada “classe A”, por exemplo, procura mais características técnicas e tecnologia do que a “classe D”.

A Whirpool/América Latina, seguindo uma estratégia de segmentação de mercados no Brasil, trabalha basicamente com duas marcas: a Consul e a Brastemp. E, por ser o público consumidor alvo da Brastemp mais exigente, em relação aos requisitos técnicos dos produtos, a política de atuação desta marca encontra-se mais voltada à alta tecnologia, diferentemente da Consul, que prioriza outros aspectos, tais como a performance, a relação custo-benefício, a operação simples, etc. (ENTREVISTADO “L”, 1998).

Dentro desta estratégia, os materiais utilizados pela Whirpool/América Latina variam entre os produtos das marcas Consul e Brastemp. Enquanto a Consul, direcionada aos segmentos médios do mercado, “volta-se mais ao plástico, ao arame”, no caso de refrigeradores e freezers, por exemplo, a Brastemp, direcionada a uma classe social mais elevada, “procura usar vidro, plásticos mais nobres, com algumas outras coisas para dar mais reflexo...”, relata o Entrevistado “L” (1998) (ver Figuras 554, 555 e 556).
Figura 554 - refrigerador consul “degelo seco 320” e detalhes externo (mostrando puxador) e interno (mostrando prateleira e gaveta de frutas e legumes) (BRASIL, 2002)
NOTA: Prateleiras em arames de metal

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