A diversidade de hábitos culturais reflete-se na configuração dos móveis e modos de uso dos mesmos pelas sociedades.
Há, nos Estados Unidos, armários que servem tanto como roupeiros como suportes para TV, diferentemente do Brasil, onde este tipo de associação de funções não costuma ocorrer (ver Figura 473).
FIGURA 473 - PÁGINAS DA RIVERSIDE FURNITURE NA INTERNET, MOSTRANDO ARMÁRIO MULTI-USO - ROUPEIRO / SUPORTE DE TV (EUA, 2004)
Outro exemplo de característica cultural norte-americana, que se reflete no design de móveis, é que “móvel de banheiro lá é móvel de banheiro (ver Figura 474). Aqui [no Brasil] se usa o mesmo móvel de banheiro em áreas de serviço e talvez até em cozinha”, observa Torresan (2001).
FIGURA 474 - MÓVEIS PARA BANHEIRO DA CARRARO, EXPORTADOS PARA OS ESTADOS UNIDOS (2001)
Os norte-americanos têm o hábito de trabalhar eles próprios no jardim de suas residências, onde costumam reunir-se em família e entre amigos, o que já não é tão comum no Brasil e na Europa. Em vista disto, eles consomem muito mais equipamentos e móveis de jardim, comparativamente aos brasileiros e europeus.
... mesmo mais para o Norte dos Estados Unidos, em dias de sol, não interessa nem se está frio; eles vão para o jardim, comem no jardim e se reúnem no jardim. Gostam do sol e, para eles, o jardim faz parte da casa. Já nós temos um jardim em frente da casa, umas florzinhas, a grama, e acabou. Lá [nos Estados Unidos], não. Eles fazem a casa mais na frente e atrás aproveitam muito bem. Aproveitam para convidar os amigos. [...] E o móvel de jardim hoje já é bastante disputado, inclusive em design e qualidade. É claro que esse móvel tem que ser resistente, porque fica lá fora, na neve, nas intempéries... Lá também existe muito design. Hoje, até uma partezinha de madeira que esconde o vaso, para eles é decoração. Como aquela treliça para segurar trepadeiras, tudo é fabricado e tem uma venda muito boa. Cercas, normalmente eles não usam lá, mas, como detalhe de decoração, sim. Então, tudo isso está muito desenvolvido nos Estados Unidos, assim como na Europa. Só que na Europa isso não é tão forte como nos Estados Unidos, mesmo porque nos Estados Unidos o inverno é menor do que na Europa, onde o pessoal é mais família, mais dentro de casa. O sistema americano é bem diferente do europeu (TORRESAN, 2001).
Nos Estados Unidos, há lojas e departamentos especializados em jardim, que comercializam vários tipos de produtos, incluindo-se móveis. No Brasil, por outro lado, este segmento ainda se encontra incipiente e muito fraco.
As características de modularização e compartimentação se encontram muito presentes no mobiliário japonês, a exemplo dos roupeiros, que possuem espaços separados para camisas, gravatas e outros vestuários (ver Figura 475).
FIGURA 475 - PÁGINA DA ISAMIYA CO.,LTD. NA INTERNET, MOSTRANDO ROUPEIRO E DETALHES DE GAVETAS PARA GRAVATAS, CAMISAS E OUTRAS ROUPAS; MÓDULO DE ROUPEIRO (JAPÃO, 2004)
Os requisitos de uso de móveis para cozinha também refletem as diferenças de hábitos culturais existentes entre as sociedades.
No Brasil, as cozinhas são mais valorizadas em seu uso cotidiano, comparativamente aos Estados Unidos, segundo TORRESAN.
Hoje, no Brasil, uma cozinha é uma sala de visita, nas classes média e média baixa. As pessoas, basicamente, ficam na cozinha. E mesmo as visitam ficam na cozinha. Então, elas gastam mais dinheiro em móveis de cozinha. Já nos Estados Unidos, por exemplo, o uso da cozinha é rápido. Ela é muito pequena, porque eles têm o microondas e o essencial para comprar a comida congelada no supermercado, e nela chegar, esquentar e comer. Já a sala de estar, nos Estados Unidos, é bem maior. E aqui é o inverso: a cozinha é maior e a sala de estar é menor.
O Brasil tem diversas raças; é uma miscelânea de raças, e cada raça tem seu gosto. Mas, a predominância maior é mais européia. Então, a cozinha é maior. [...Já] nos Estados Unidos, não. Lá é uma área de serviço mesmo. [...] No Brasil, já se senta e se fala na cozinha. A área de estar ficou praticamente na cozinha. E as fábricas de cozinha têm uma venda muito boa, e as pessoas já estão escolhendo lojas que planejam móveis, enquanto que, em outros tipos de móveis, como os nossos, só determinados tipos de segmentos são planejados. O resto é preço. Eles dizem o seguinte: "Na cozinha, eu recebo visita. No quarto, posso ter até a cama no chão. Ponho o colchão no chão...". Na cozinha, como se recebe visita, o móvel é planejado, e normalmente gastam 2, 3, 4 mil reais em uma cozinha, mas não gastam 500 reais em um quarto (TORRESAN, 2001). [sem grifo no original]
A mobília de cozinha tem sido a prioridade, na ordem de compra no Brasil. Em segundo lugar, vem o dormitório de casal, e, em terceiro lugar, a sala de estar.
A primeira coisa que a pessoa compra é a cozinha. [...] Sem isso, tem gente que não se muda. Tem gente que tem uma casa menor, e construiu a maior, com esforço e tal, e não se muda se não tiver a cozinha bonita, certa, do sonho. Mas, a pessoa se muda se tiver um colchão no chão. Então, a cozinha é a primeira, e a segunda é mais o dormitório de casal, e a terceira é a mobília de estar, principalmente a estante para a televisão, e a última coisa é o estofado (TREVISAN, 2001).
Há, no Brasil, móveis específicos para bar (ver Figura 476) para residências, apesar de que, com as transformações da sociedade, no perfil da população e modos de vida, o uso e a produção industrializada deste tipo de móvel decresceu consideravelmente no país.
Na Espanha, geralmente o bar para residências encontra-se conjugado à estante de sala de estar (ver Figura 477).
FIGURA 476 - BAR DA RUDNICK (BRASIL, 2004)
FIGURA 477 - DETALHES DE BARES CONJUGADOS A ESTANTES, DA LINHA “MOBILIARIO CLÁSSICO”, DA PUCHADES MOBILIARIO (ESPANHA, 2004)