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| Figura 455 - fiat strada LX - com cabine estendida e interior da cabine (1999) |
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Este tipo de uso urbano de carros utilitários, observado no Brasil, não é comum, por exemplo, no Japão. “... o conceito de off-road, de picape, para o americano é muito mais parecido com o do brasileiro que o do japonês. [...] o japonês não compra muito picape que não seja para ser utilitário mesmo. Se for para ficar passeando, ele vai comprar um carro pequeno”, relata Kraemer (2001).
A Volkswagen tem ampliado significativamente sua participação no mercado brasileiro de caminhões. E um dos fatores determinantes para tal tem sido o desenvolvimento do design dos mesmos com base em pesquisas realizadas pela empresa junto aos consumidores. Um exemplo disto é o caminhão Volkswagen Titan Tractor 18.310, lançado no ano de 2000, cuja configuração de cabine, potência de motor e distribuição de carga foram definidos, levando-se em conta requisitos identificados em pesquisas de mercado.
O Volkswagen Titan Tractor 18.310 é um caminhão do segmento dos pesados, voltado a percursos que não demandam que o motorista durma no caminhão durante os mesmos. Em vista disto, optou-se por utilizar cabine simples, oferecendo-se um colchonete que pode ser estendido sobre os assentos (ver Figura 456), enquanto que os modelos concorrentes em geral têm cabine leito, pelo menos como opcional. Em relação à distribuição de carga, possibilita capacidade de carga combinada, através do ajuste da quinta roda, com duas posições de altura e avanço de até 100 mm. Suporta até 10 toneladas, sendo a única do segmento com esta capacidade.
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| Figura 456 - caminhão volkswagen “titan tractor 18.310” e interior da cabine, com colchonete sobre os assentos (2002) |
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Um dos fatores que têm influenciado o design de automóveis para o Brasil tem sido o fato das famílias brasileiras serem, em média, mais numerosas, comparativamente às européias, exigindo um bom aproveitamento de espaço interno dos veículos.
O Volkswagen Fox, por exemplo, automóvel compacto desenvolvido pela Volkswagen do Brasil, sob a coordenação de Luiz Alberto Veiga, reflete esta preocupação, tendo sido desenvolvido a partir do conceito "Designed Around the Passengers" (desenvolvido “de dentro para fora, ao redor do passageiro”), que prioriza o planejamento do espaço interno (ver Figura 457).
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| Figura 457 - automóvel volkswagen “fox” (2004) e ilustração de estudos de seu interior (design studio brasil da volkswagen - ilustrador: mühlethaler) |
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Entre as várias regiões do Brasil, a diferenciação dos veículos tem se limitado, basicamente, aos tipos de acessórios ofertados. As empresas em geral não têm desenvolvido veículos com um design diferenciado, de acordo com requisitos mais específicos das mesmas.
Há muito poucas variações regionais. [...] Na verdade, não se fazem adaptações regionais; são disponibilizados opcionais, e, de acordo com cada região, consegue-se vender mais um ou outro. Um exemplo típico: que carro você acha que vende mais no Mato Grosso: a Palio Weekend ou a Palio Adventure? É a Palio Adventure, porque ela é mais alta e tem borrachão embaixo. Mas, não é necessariamente uma adaptação regional.
O que o pessoal consegue fazer hoje para vender mais carros no Nordeste? A primeira coisa é integrar o ar-condicionado, senão não se consegue vender. Mas, principalmente, lá se vende carro 1.0, com financiamento.
[...] O gaúcho, por exemplo, precisa de aquecimento, enquanto que o nordestino precisa de ar-condicionado no carro. (KRAEMER, 2002).
Nos últimos anos, a maior abertura ao desenvolvimento de produtos pelos centros de design das subsidiárias brasileiras das multinacionais tem ampliado as oportunidades para um melhor atendimento dos requisitos dos produtos, incluindo-se os de uso. O Ford EcoSport, por exemplo, foi desenvolvido para que cumprisse a função de um veículo utilitário esportivo para ser utilizado tanto em áreas rurais, quanto urbanas. Para tanto, deveria ser confortável, potente e com desempenho satisfatório tanto em pisos de asfalto, quanto de terra, a fim de atender requisitos identificados em pesquisas sobre o perfil do público-alvo dos mercados brasileiro e sul-americano e de acordo com a categoria em que se enquadra o veículo. Desenvolveu-se, assim, o primeiro utilitário esportivo compacto produzido no Brasil, sendo também apropriado para o uso em centros urbanos (ver Figura 458).
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| Figura 458 - ford ecosport (brasil, 2003) |
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Apesar de incorporarem visíveis influências estrangeiras, estas experiências inauguram uma nova fase do design industrial no Brasil, que demanda um maior aprofundamento da pesquisa sobre a questão da diversidade cultural, contextos ambientais, econômicos e sociais, características e requisitos de uso das pessoas deste país, com vistas ao desenvolvimento de produtos de qualidade para a sociedade. █ |
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