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Figura 562 - refrigerador Consul “Pratice CQC 22A" (brasil, 1998)
A atenção dada às funções técnicas dos produtos, por usuários de culturas distintas, também varia. Os consumidores argentinos, por exemplo, são mais atentos às mesmas que os brasileiros, segundo os Entrevistados “A” e “I”. “... lá na Argentina, têm-se vários modelos [de lavadoras de roupa] com a mesma estrutura, porém mudando o painel, a rotação da máquina e algumas regulagens (umas têm features a mais, outras a menos), porque lá eles dão muito valor à variação da rotação da lavadora, coisa que aqui no Brasil o mercado ainda desconhece” (ENTREVISTADO “I”, 1998). No Brasil, se forem introduzidas lavadoras de roupa “com conceitos semelhantes, mas graficamente diferentes, tecnicamente passando de 500 rpms, para 750rpms, 1000 rpms (isso tem muita diferença na aparência da roupa, no encharcado da roupa, na hora em que ela sai da máquina), a pessoa só vai descobrir isso depois que comprou” (ENTREVISTADA “A”, 1998).

Os requisitos técnicos, em termos de gestão ambiental, variam, em função das diferenças de legislação ambiental vigente nos diversos países e da cultura dos usuários.

Os países europeus, por exemplo, têm “normas muito mais rigorosas, em termos de reciclagem”, comparativamente ao Brasil, cujo consumidor não se preocupa tanto quanto o europeu com a gestão ambiental, segundo Bertola (1998; 2001).

De acordo com o mesmo, que a Electrolux do Brasil tem se preocupado mais, ultimamente, com as questões ecológicas e ambientais. Entretanto, sua condição “não chega nem aos pés do que se tem na Europa”, onde as lavadoras, por exemplo, têm “filtros na saída, para se despejar a água o mais limpa possível”. Isto ainda não se tem no Brasil, em parte pelo alto custo envolvido no processo e pela falta dos consumidores pagarem por isto, e, por outro lado, em decorrência da diversidade cultural, em termos de percepção das pessoas sobre a questão do impacto ambiental. (BERTOLA, 1998; 2001).

Segundo o Entrevistado “D” (1998), no Grupo Electrolux, a cobrança para que todas as empresas do Grupo desenvolvam “produtos bem resolvidos ecologicamente e com matérias-primas que não agridam o consumidor e o meio ambiente é muito forte”. De acordo com Bertola (1998; 2001), a busca do desenvolvimento de produtos “inteligentes” na Electrolux compreende, além de elegância estética, ergonomia e respeito ao uso, soluções ecológicas. Deste modo, procura-se desenvolver produtos, “cujo processo produtivo use materiais recicláveis; cujo uso e descarte não agridam o ambiente; e que, também, no consumo de alimentos, se tenha cuidados para não haver o desperdício dos mesmos e de energia”.

Ratifica-se, pois, a visão de Branzi (1987), Leon (1991) e Manzini (1993), dentre outros, acerca do investimento, por parte das indústrias, no uso de uma tecnologia mais adequada ao meio ambiente.

Percebe-se que o esforço pela redução da obsolescência dos produtos tende a ser reforçada no contexto mundial, confirmando-se a perspectiva apontada por Dietz e Mönninger (1994). 

Conforme aponta o Entrevistado “K” (1998), “cada vez mais as empresas serão responsáveis por seus produtos, pelo ciclo de vida dos mesmos”. O mesmo vislumbra a possibilidade de, no futuro, o usuário comprar o “uso” do produto, e a empresa produtora ser a responsável pelos “materiais, gases, coisas” que colocar nas casas, bem como pela destinação do produto após o uso.
“... o grande diferencial no futuro da linha branca será a ecologia; [...] a preservação e a reciclabilidade”, afirma o Bertola (1998; 2001).

No caso dos plásticos, “também está se mudando a mentalidade quanto à reciclagem”, diante da visão de que “ser ecológico não é a pessoa pegar, moer e injetar novamente; é também reutilizar o produto”. No entanto, há vários problemas ainda não solucionados, tais como o das baterias de celular e câmeras, que estão gerando muito lixo, sem que as indústrias saibam como reciclá-lo. “É difícil... Desde que o homem começou a lascar a pedra, começou a interferir na natureza. E é uma coisa irreversível. Desde que começou a utilizar a sua inteligência, começou a alterar as coisas a seu favor. E a nossa profissão de designer é, de certa forma, meio agressora mesmo, e é difícil perder isso”, pondera o Entrevistado “E” (1998).

Destaca-se, assim, a relevância da gestão ambiental no desenvolvimento de produtos e a responsabilidade do designer industrial quanto às decisões relacionadas aos requisitos técnicos dos produtos, que podem comprometer tanto o destino das empresas, quanto a qualidade de vida da sociedade e o meio ambiente, já bastante transgredido pelos seres humanos.

Ainda que se identifique uma tendência a um maior nivelamento dos produtos, no âmbito tecnológico, entre as empresas, percebe-se que a busca por inovações e as exigências de especificidades, em decorrência da diversidade cultural dos grupos sociais, assim como de fatores ambientais, dentre outros, constituem barreiras relativas à homogeneização dos requisitos técnicos dos produtos e de sua materialização.
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