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» cultura e identidade
 
Essa desfocalização do “outro” não ocorre somente entre grupos, mas também entre indivíduos, pelo fato de que sua percepção e participação, em relação a uma determinada cultura, variam de uma pessoa para outra, em um processo dinâmico e heterogêneo que resulta na diferenciação e complexidade de valores, necessidades e comportamentos.

A avaliação de uma cultura diferente da nossa se dá a partir do significado que a mesma tenha para nós, resultando, portanto, de uma perspectiva etnocêntrica. Esta é construída a partir de um complexo sistema de referências, que compreende a educação que recebemos, nossos juízos de valor, motivações e interesses, dentre outros aspectos, sob cuja ótica a cultura do outro é constantemente deformada, ou mesmo impossível de ser percebida.

Salienta-se, deste modo, a inconsistência de classificações universais do tipo “sociedades superiores e inferiores” e destaca-se a importância das contribuições culturais das várias sociedades e do contato e influências entre as mesmas. Conforme argumenta Claude Lévi-Strauss, "a noção da diversidade cultural não deve ser concebida de forma estática”, isolada e fragmentada, mas a partir das relações diretas e indiretas que se estabelecem entre as sociedades, considerando-se que o desenvolvimento das mesmas não se dá de modo uniforme e em um único sentido (1970, p. 235-236).

São evidentes as influências, apropriações e reorganizações de características entre as várias culturas surgidas no mundo, como demonstra, por exemplo, a história das invenções, que trouxeram inúmeras contribuições ao processo de desenvolvimento das sociedades. As invenções se difundiram, foram aproveitadas e combinadas por vários povos, além dos inventores, muitas vezes com diferentes usos, como no caso da pólvora, inventada pelos chineses.

No entanto, Lévi-Strauss atenta para a necessidade das culturas manterem alguns “afastamentos diferenciais”, como obstáculos aos intercâmbios interculturais, a fim de preservarem sua diversidade cultural e sua criatividade. Com base nesta visão, entende-se que a humanidade não deveria libertar-se completamente do etnocentrismo, o que se contrapõe à própria condição do “progresso” cultural, visto como “função de uma coalizão entre culturas”, pois a história nos mostra que esta tem sido tanto mais fecunda, quanto mais diversificadas as culturas envolvidas (1970, p. 266).

A teoria Estruturalista de Lévi-Strauss, assim como o Culturalismo e o Funcionalismo, percebe a questão das diferenças como produto do acaso, como se a escolha de um ou outro caminho no processo de desenvolvimento das sociedades não dependesse dos atores sociais. Desta forma, torna -se também incapaz de pensar as transformações e os conflitos (CANCLINI, 1983).

Essa espécie de "impermeabilidade" etnocêntrica, proposta por teóricos como Lévi-Strauss, torna-se inconsistente, uma vez que se desenvolve, em praticamente todas as sociedades do mundo, um intenso processo de mestiçagem e transculturação e considerando-se que há limites de espaços sociais não-fixos, irregulares e mesclados (GEERTZ, 1996; 2001).

Vale ressaltar ainda que, quanto maior o alcance de nossa percepção do mundo, tanto maior é a nossa compreensão sobre os outros e acerca de nós mesmos. Como bem observa Benedict (1972), as pessoas, enquanto se mantiverem na defensiva em relação às outras culturas, exigindo que os outros adotem suas soluções particulares, estarão se privando de uma experiência enriquecedora.

Com uma abordagem interpretativa, segundo Geertz (1989; 1996), esta pesquisa parte do entendimento da cultura como a teia de significados tecida pelas pessoas nas sociedades, onde desenvolvem seus pensamentos, valores e ações, e a partir da qual interpretam o significado de sua própria existência. Consiste em um fenômeno capaz de representar, reproduzir e transformar os elementos que conformam o sistema social e a vida, influenciando e sendo influenciada pelas práticas econômicas e relações simbólicas, de acordo com a visão de Canclini (1983).

Considera-se que as pessoas precisam estar atentas à questão da diversidade cultural, respeitando a sua cultura e a do outro, com uma visão crítica e um compromisso moral com a sociedade.  E que, nas relações com culturas distintas, devem buscar compreender as experiências de outras, como salienta Benedict (1972), assimilando e reinterpretando aquelas que possam contribuir em seu desenvolvimento e lhes trazer benefícios, em termos de qualidade de vida.

Cabe lembrar que “diversidade” não se traduz como “desigualdade”, e que “diferença” não significa “divisão”, sendo possível uma coexistência harmônica da diversidade na totalidade.

A cultura encontra-se essencialmente vinculada ao processo de formação das sociedades humanas, em uma relação de simbiose, interdependente e dinâmica que acompanha o desenvolvimento dos indivíduos e grupos sociais, expressando seus referenciais, valores e comportamentos, dentre outros elementos, que compõem a sua identidade.

A identidade cultural possui, deste modo, um caráter dinâmico e multidimensional, não podendo ser compreendida como um princípio hermético e imutável. Fundamenta-se na diversidade e não na homogeneidade.

Não cabem, portanto, à cultura e à identidade cultural, abordagens deterministas e reducionistas, que conduzem a conceitos generalizantes, tais como, por exemplo, os de “cultura nacional” e “identidade nacional”, que surgem atrelados ao processo histórico de invenção do conceito de “nação”, representando uma unidade pretendida, embora esta somente se sustente na esfera ideológica e do discurso, como observam Chaui (2000), Hobsbawn (1990) e Ortiz (1994), dentre outros. Estes conceitos não condizem com a realidade, que é essencialmente plural e variável.
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