Início home Sobre home Pesquisas home índice home Colaboradores home Eventos home Buscar
s Fundamentos   Teses
» Design Industrial e Diversidade Cultural
 
A incorporação de princípios advindos do exterior, tais como os difundidos pelo movimento Moderno, além de outros, bem como certas políticas governamentais – a exemplo do plano de desenvolvimento econômico acelerado do governo de Juscelino Kubitschek, que, inspirado em uma imagem idealizada dos países capitalistas considerados desenvolvidos, fez das empresas multinacionais o carro-chefe do desenvolvimento industrial do Brasil - têm contribuído para a valorização das coisas que vêm de fora.

Tais políticas têm sido determinantes na questão da internacionalização e dependência econômica do Brasil a países centrais industrializados. Diferentemente de alguns países como o Japão e a Coréia, por exemplo, cujas estratégias econômicas fundamentaram-se no desenvolvimento de suas próprias empresas, incentivou-se, no Brasil, a instalação de empresas multinacionais, sobretudo nos setores de bens duráveis, e especialmente no automobilístico. Esperava-se, com isso, incorporar conhecimentos gerenciais e tecnológicos das corporações multinacionais ao parque industrial brasileiro. No entanto, segundo Afonso e Maria Tereza Leme Fleury (1997; 2001), não se promoveu o desenvolvimento de produtos específicos para o Brasil, na medida em que os produtos fabricados neste país eram desenvolvidos pelas matrizes das multinacionais, e as instalações fabris daqui eram similares àquelas dos países de origem.

Aos designers industriais cabe, fundamentalmente, o papel de desenvolver propostas viáveis, do ponto de vista produtivo e comercial, e que, ao mesmo tempo, promovam o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo.

Identificam-se fatores determinantes para o desenvolvimento do design no Brasil, tais como a inserção de profissionais e o estabelecimento de áreas de design nas empresas.

O contato entre as universidades e as empresas precisa ser renovado e ampliado, tanto no âmbito da pesquisa, quanto da prática em design, a fim de promover o aperfeiçoamento, a inovação e o desenvolvimento de produtos úteis e adequados à sociedade.

Além disso, é importante conscientizar os empresários de que o design não é, como muitos leigos imaginam, algo fácil, superficial, que se desenvolve da noite para o dia, mas que, ao contrário, trata-se de uma atividade complexa que necessita de uma base de pesquisa aprofundada e de interação com outras áreas, ao longo de todo o processo de desenvolvimento de produtos.

Por outro lado, é necessário que os próprios designers industriais compreendam que possuem um papel a cumprir junto à sociedade, e que a sua função se encontra muito além de exercícios de experimentação, do glamour oferecido pela mídia, participação em eventos e exposições efêmeras de suas criações.

É necessário promover-se uma formação de designers conscientes de sua responsabilidade social e cultural, lembrando que, na prática profissional, conforme salienta Newton Gama Júnior (1997), o designer não pode se posicionar “como a estrela da empresa”, ou seja, o designer não pode se colocar em um pedestal ou em uma redoma de vidro, como um artista que cria isolado em seu atelier, e depois entrega à revelia a sua obra.

É imprescindível que o designer desenvolva uma prática transdisciplinar, interagindo com profissionais de outras áreas envolvidas no desenvolvimento de produtos, e que a mesma esteja focada na qualidade de vida da sociedade, no cumprimento das funções requeridas pelos usuários.

O designer precisa desenvolver produtos que sejam, como observa a Entrevistada “AD” (2001), ergonômicos e honestos, sem elementos inúteis.

As divergências, em termos de requisitos simbólicos, de uso e técnicos de produtos importados evidenciam a importância do desenvolvimento do design de produtos para as sociedades locais por designers locais, na medida em que estes se encontram mais diretamente vinculados a estas realidades, e a maior familiaridade com as mesmas contribui para a identificação e interpretação mais precisa dos requisitos simbólicos, de uso e técnicos.

O desenvolvimento do design não pode estar à mercê de tendências homogêneas, nacionais, e muito menos internacionais, e tampouco da vontade egocêntrica do designer, mas deve priorizar as necessidades e anseios das pessoas a quem se destinam os produtos.

O design, como mediador entre os artefatos e as pessoas, representa um papel importante no processo de desenvolvimento de artefatos para a sociedade e precisa ser tratado a partir de uma perspectiva da complexidade do mundo, considerando-se a pluralidade, a dinâmica, a incerteza, as inter-relações e a natureza multidimensional inerentes aos mesmos.

Cada objeto é um signo cultural e pertence a contextos sociais, ambientais, econômicos e políticos, que variam no tempo e espaço. Entende-se, assim, que tanto o conhecimento, quanto a prática do design, não podem ser reduzidos a uma questão genérica, hermética e pré-determinista. Tal tipo de abordagem pode conduzir a um determinismo tecnológico e mesmo à sacralização da tecnologia, sem a consideração de outros fatores que também merecem atenção (ONO; SANTOS, M. C. L. dos, 2003).

A adoção de uma abordagem interpretativa e holística da cultura e do design é, portanto, fundamental, levando-se em conta a complexidade que caracteriza a vida, em um mundo onde a diversidade cultural e os contextos sociais, econômicos e ambientais, além de outros fatores, precisam ser levados em conta, em prol do desenvolvimento da autonomia, identidade e sabedoria dos indivíduos, e da melhoria da qualidade de vida da sociedade como um todo.
 página anterior PÁGINA 02 próximo capítulo  
  nível acima
nível acima
 
anterior
anterior
próxima
próxima
Esta página: 02/02  
  pdf Aumentar fonte  
  pdf Diminuir fonte  
Capítulo  
  pdf Versão em PDF  
Modo de leitura  
  Para tela cheia modo leitura  
veja também:
Ícone Automobilístico Setor Automobilístico
Ícone Eletrodoméstico Setor Eletrodoméstico
Ícone Eletrodoméstico Setor Moveleiro
Todos os direitos reservados - Copyright © Maristela Mitsuko Ono 2004 / 2007 / 2009.