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Figura 500 - PAINEL DE comando dos FORNOs de MICROONDAS brastemp “27 litros jet defrost” (brasil, 2002) e consul (brasil, 2004)
FONTE: Fotos de Maristela M. ONO, 2004
    No caso do [forno de] microondas, têm-se certas diferenças de tempo entre receitas brasileiras, americanas e européias. Então, há possibilidade de se ajustar tempos em função dessas características. Os americanos, por exemplo, consomem chicken wings, que são asinhas de frango que são preparadas de certa forma que é muito popular lá. Então, muitos microondas que vêm dos EUA vêm com essas características. Então, o trabalho da indústria daqui é reproduzir uma outra receita em que aquele tempo possa adequar-se, ou que se possa ajustar para uma coisa mais prática. No caso do Brasil, os produtos da Multibrás, Brastemp e Consul são produzidos aqui e eles já têm todas as receitas adequadas para o tempo de preparo ideal. (ver vídeo ) [...] A Whirlpool / América Latina tem procurado seguir o padrão internacional de pictogramas, embora haja requisitos particulares como no caso do público brasileiro, que prefere aqueles mais lúdicos, segundo relata Fioretti (2006).[...] Nós procuramos respeitar o padrão internacional [de pictogramas]. No entanto, muitas vezes, um pictograma é importante no Brasil, porque nós temos um grande número de assistentes domésticas que não sabem ler. No entanto é difícil para a empregada dizer: “Hoje, você lava essas roupas e usa tal programa”, porque ela não vai conseguir ler. Então, os pictogramas ajudam, você aperta o botão que tem essa camisa e depois você pode apertar o botão que tem essa minhoquinha que é para centrifugação, no caso de você querer mudar o programa. A pessoa vai pegando essas referências e vai utilizando. É uma forma mais rápida de entender, assim como o microondas também tem aquecimento, descongelamento...Os pictogramas não são tão lúdicos quanto o brasileiro gosta, mas são normas internacionais que a gente deve seguir, inclusive muitas da própria ABNT que importa normas internacionais que a gente respeita (ver vídeo ). (FIORETTI, 2006).

O norte-americano “gosta de coisa grande, exagerada; às vezes, joga comida fora”, enquanto que o “europeu, não”, afirma a Entrevistada “H” (1998). No caso de refrigeradores japoneses, por exemplo, “o layout interno é muito diferente, porque o hábito alimentar é muito diferente”, observa o Entrevistado “K” (1998).

Dependendo dos hábitos culturais das pessoas, pode surgir a necessidade de compartimentos específicos para determinados tipos de alimentos e bebidas nos eletrodomésticos.

Os refrigeradores europeus “costumam ter uma prateleira só para vinhos”, devido ao hábito de consumo mais acentuado deste tipo de bebida, relata o Entrevistado “F” (1998) (ver Figura 501).
Figura 501 - refrigerador husqvarna “opal plus” e freezer husqvarna “safir plus”, e detalhe, mostrando PORTA-VINHOS do refrigerador (suécia, 1998)
Tanto no caso da Electrolux do Brasil, quanto da Whirpool/América Latina, as diferenciações dos produtos para os vários mercados da América do Sul e Latina têm sido relativamente poucas.

Ainda assim, identificam-se exemplos de diversidade significativas, como no caso dos fogões da Argentina, que necessitam de um tipo de chama e compartimento específicos para o preparo da “Parrilla”, um alimento típico consumido no país. “... o fogão, na Argentina, tem que ter a ‘parrillera’257▼ [...]. Se não tiver, pode botar lá no mercado, pode ser lindo, que eles vão olhar [e dizer:] ‘Ah, que lindo!’, e não vão comprar”, afirma o Entrevistado “L” (1998).
                                                                                        
Destacam-se, portanto, os hábitos alimentares, dentre as convenções culturais que estruturam o cotidiano e o comportamento de consumo, dentre as principais barreiras à homogeneização dos produtos, conforme o entendimento de Usunier (1992).

Os requisitos de uso, quanto à divisão de compartimentos e componentes dos eletrodomésticos também varia entre determinados mercados, em vista de particularidades de hábitos culturais.

    [...] os compartimentos, como os hábitos estão mudando muito desde o fim da inflação, [quando] as pessoas recebiam o salário, corriam no supermercado para comprar tudo, estocar. Então tinham os freezers, tinha aqueles grandes freezers para estocar alimento pro mês inteiro para evitar a inflação. Os refrigeradores tinham compartimentações várias para adequar os produtos e tal. Hoje em dia, isso está mudando muito; os hábitos de compra de alimentos estão mudando muito. Hoje, você vai nos supermercados, você vê o seguinte: o consumidor faz compras de listas semanais, ao invés de mensais. Vai uma vez por semana, compra menos coisas para o consumo dos próximos dias. Portanto, as porções são menores, Para os consumos de frios, por exemplo, hoje você tem uma gôndola de frios gigantesca e super diversa, você pode comprar 100 gramas de cada frio e então, você diversifica a oferta para a sua família, diferentes tipos de queijo, enfim,e muitas delas já vem em certas bandejinhas ou invólcruos que muitas vezes vão da gôndola para dentro das geladeiras. Muitas vezes são porções pequenas que a consumidora tira da embalagem e coloca em tapewares. Então, ela faz o próprio layout da geladeira. A gente entende que o que precisa ter é um bom gavetão de frutas e verduras, porque isso é muito consumido no Brasil, tem que deixar espaço para a pessoa compor o produto da forma que ela deseja. Depois que ela compôs uma vez, ela não mexe, ela dificilmente fica rearranjando o produto uma vez por mês. [...]. Muitas vezes ela usa seus próprios utensílios para guardar; o tapeware, a embalagem que já vem pronta...As embalagens são menores, elas são descartadas. (ver vídeo ) [...] De região para região, de país para país, existem algumas variações. Na índia, o armazenamento de água, de frutas e verduras ocupa um grande espaço na geladeira. Aqui no Brasil, ocupa bastante, mas é um pouco menos. Nos EUA, tem que ter espaço para os galões de leite, que são muito grandes e muito pesados; para as embalagens de refrigerantes, que são cada vez maiores, de 2, 3 litros. Então o produto tem adaptações para o mercado local de alimentos. Então existem, sim, variações significativas, mas totalmente em função daquilo que se encontra nos supermercados, nas embalagens de alimentos (ver vídeo ). (FIORETTI, 2006).
Na China e no Japão, por exemplo, “entram as coisas menores e mais compartimentadas”, enquanto que, na Europa, as pessoas “gostam de espaços maiores”, relata a Entrevistada “H” (1998)  (ver Figura 502).

Há componentes diferenciados, a exemplo das bandejas rotatórias das prateleiras do refrigerador japonês Sanyo, apresentado na Figura 502, que facilitam o manejo dos alimentos acondicionados ao fundo das prateleiras.
Figura 502 - refrigerador sanyo “sr-41zr” e detalhe da gaveta inferior (japão, década de 1990), e refrigerador sharp “sj-pv50h” (japão, 2004)
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257▲ Tipo de aquecedor de pratos, apropriado para o preparo da “Parrilla”.
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