Os sistemas de funcionamento dos produtos variam entre determinados mercados, em decorrência da diversidade cultural.
No Chile, onde nós também temos fábrica, só se vende fogão se, no forno, houver uma regulagem de chama direta e indireta. É uma alavanca que, na verdade, a pessoa inverte a posição do queimador. E, por mais que os nossos engenheiros fizessem testes no laboratório para perceber as diferenças no resultado do cozimento ou do assado, da chama direta e indireta, não viram quase que diferença nenhuma. Mas, no mercado chileno, se não tiver isso, a decisão de compra do produto vai pelo produto que tenha essa regulagem, o que é uma besteira. Mas, por algum motivo histórico do passado, algum concorrente forte, na época, que tinha is so, moldou o mercado de tal forma. Então, se alguém quer entrar lá e vender fogão, tem que fazer isso, senão não compete.Cada país tem as suas características. (GAMA JÚNIOR, 2001).
Algumas particularidades podem ser observadas nas soluções técnicas, em decorrência de inovações tecnológicas incorporadas aos processos produtivos. O Entrevistado “E” (1998) relata o caso dos refrigeradores da Electrolux do Brasil, que apresentam uma curvatura na porta, conseguida tecnicamente na época da Refripar, e que, até então, não estava sendo utilizada pelas outras marcas. Salienta que “cabe aos designers, principalmente, estar sempre propondo algo novo”.
Varia a percepção do consumidor de diferentes mercados, em relação à tecnologia, o que também traz implicações ao design de produtos. No caso do Brasil, por exemplo, “a dona de casa daqui tem mais receio quanto à tecnologia”, em relação a países como os Estados Unidos e outros da Europa, “que são mercados bem distintos”. “Isso já muda o conceito de design para esses mercados”, como observa o Entrevistado “I” (1998).
Os sistemas de funcionamento variam entre os mercados. Há lavadoras de roupa japonesas, por exemplo, que possuem sistema de ventilação interna, que possibilita um ganho de potência1▼ significativo na lavagem das roupas (ver Figura 560).
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| Figura 560 - ilustração do sistema de lavagem com ventilação interna, “twin air”, da lavadora de roupa toshiba “AW-504G” (japão, 2004) |
| NOTA:
Lavadora de roupa do tipo Top-Load |
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Variam os requisitos técnicos dos produtos, em termos de durabilidade, entre mercados diversos. Enquanto os fogões alemães, por exemplo, “são projetados para durar 15 anos, 10 anos...”, o fogão brasileiro “é projetado para durar 4, 5 anos, no máximo, e o consumidor já começa a se imaginar com um modelo novo”, segundo o Entrevistado “J” (1998). Por outro lado, exige-se que a lavadora de alta pressão, no Brasil, seja mais resistente que as européias, porque aqui ela é “pau para toda obra”. A lavadora de alta pressão vinda da Europa “pode ser linda e maravilhosa, tecnicamente perfeitamente adaptada para o uso, mas, quando chega no Brasil, ela não funciona, lava mal, ela quebra, ela se desgasta [...]. Pode-se pegar o melhor produto lá de fora; chega aqui dentro, ele vai estourar!”. Em virtude disto, “a lavadora de alta pressão pode até ter uma característica formal similar, mas tecnicamente não”, sustenta a Entrevistada “A” (1998).
O ciclo de vida dos produtos varia entre os vários mercados, constituindo-se, também, uma barreira relativa à homogeneização dos mesmos. A Entrevistada “A” (1998) relata que, atualmente, no Brasil, o ciclo de vida de um produto da Electrolux costuma durar “cinco anos”, enquanto que na Ásia dura “um ano”.
A Linha Professional Series, composta por produtos importados da Europa e Estados Unidos pela Electrolux do Brasil, possui materiais mais “nobres” (tais como o aço inox, dentre outros) e com uma tecnologia mais avançada que os produtos nacionais. Além disso, possuem um nível de qualidade de acabamento que a Electrolux do Brasil ainda não tem condições de fazer, de acordo com o Entrevistado “I” (1998) (ver Figura 561).
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| Figura 561 - ambiente com eletrodomésticos da linha “Professional series”, da electrolux do brasil (1998) |
| NOTA:
Eletrodomésticos importados dos Estados Unidos e Itália |
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No Brasil, não há, de um modo geral, produtos específicos para as diferentes regiões, o que tem gerado certos problemas técnicos. Em relação ao controle de temperatura, por exemplo, muitas vezes o refrigerados “é super dimensionado para o Sul e, às vezes, fica subdimensionado para o Norte”, relata a Entrevistada “A” (1998).
A questão de clima é um problema que a gente tem. Por exemplo, no sul pode-se acabar congelando uma verdura que esteja na gaveta de refrigeração, e no nordeste, se não houver uma regulagem adequada do termostato, pode estragar a carne, por exemplo, que está na geladeira. Por isso é que existe a regulagem de temperatura. A questão climática influencia também as questões relacionadas ao consumo de água e de outros líquidos, a quantidade de aberturas de porta da geladeira, etc. (Entrevistado “F”, 1998).
O Entrevistado “D” (1998) relata que, no Sul do país, “a gente não tem o costume de deixar os produtos muito expostos, por exemplo, a raios UV, às intempéries...”. Já no Rio de Janeiro, no Nordeste e Norte do país, “as pessoas põem um freezer, por exemplo, na área externa da casa e, às vezes, até exposto à chuva, a sol, ao calor, à intensidade de sol muito maior que a gente tem aqui”. Tal diversidade exige soluções apropriadas em termos de materiais e acabamentos, porque se pode ter um resultado “desastroso” com um produto que utilize, por exemplo, a cor amarela, “que tem uma concentração de cádmio altíssima”, se esta for exposta, sem um aditivo especial, a raios ultra-violeta no Nordeste. O amarelo pode, de uma hora para outra, “ficar branco”.
Um exemplo de produto, cuja especificação técnica foi direcionada a um mercado mais específico, é o refrigerador Consul “Pratice CQC 22A" (ver Figura 562), a gás, destinado à área rural e a localidades isoladas, onde não há energia elétrica.
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| 1▲Na lavadora de roupa Toshiba “AW-704GP”, por exemplo, o sistema de ventilação praticamente dobra a potência de lavagem. |
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